sexta-feira, 29 de abril de 2016

DUQUES E CENAS - Por João Luís Nabo

                              Abril, Abril...
Há 42 anos, tinha eu treze anos e fui, ao lado do meu Pai, (eu acho que ele me deu a mão, por questões sabe-se lá de quê!) à enorme manifestação do 1.º de Maio, junto ao Cine-teatro Curvo Semedo. Largas centenas de montemorenses juntavam-se, pela primeira vez em liberdade, para celebrar, não só o Dia do Trabalhador, mas ainda a Revolução que tinha começado na semana anterior. Velhos, novos, crianças, trabalhadores, todos viveram aquela nova experiência de lágrimas nos olhos. Havia bandeiras, música, gritos, abraços, discursos. E havia, ao contrário de hoje em dia, muita gente, unida no mesmo propósito: saborear de forma real, palpável, o que era estar na via pública, livre, feliz, com centenas de amigos à sua volta e sem pides ou bufos à espreita.
Uns dias antes, na manhã do dia 25, a professora Jesuína Raposo tinha-nos dito, assim que entrámos para a sala de aulas, prontos para mais um teste de Matemática: “Vão para casa, para junto dos vossos pais, porque hoje não há aula.” Lembrei-me que, nessa manhã, a minha Mãe tinha o rádio ligado e tinha soprado discretamente um segredo qualquer ao meu Pai, antes de este ter saído para o trabalho. Ao chegar à Avenida Gago Coutinho, acompanhado por alguns colegas da turma, parei. Os militares que tinha partido de Estremoz em auxílio do Capitão Salgueiro Maia, prestes a tomar o Quartel do Carmo, em Lisboa, desciam aquela artéria central da minha vila, metidos em chaimites revolucionárias, entusiasmadas e expectantes.
Em boa hora.

João Luís Nabo
In "O Montemorense", Abril de 2016

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