Há 42 anos, tinha eu treze anos e fui, ao lado do meu Pai, (eu
acho que ele me deu a mão, por questões sabe-se lá de quê!) à enorme
manifestação do 1.º de Maio, junto ao Cine-teatro Curvo Semedo. Largas centenas
de montemorenses juntavam-se, pela primeira vez em liberdade, para celebrar,
não só o Dia do Trabalhador, mas ainda a Revolução que tinha começado na semana
anterior. Velhos, novos, crianças, trabalhadores, todos viveram aquela nova
experiência de lágrimas nos olhos. Havia bandeiras, música, gritos, abraços,
discursos. E havia, ao contrário de hoje em dia, muita gente, unida no mesmo
propósito: saborear de forma real, palpável, o que era estar na via pública,
livre, feliz, com centenas de amigos à sua volta e sem pides ou bufos à
espreita.
Uns dias antes, na manhã do dia 25, a professora Jesuína Raposo tinha-nos
dito, assim que entrámos para a sala de aulas, prontos para mais um teste de
Matemática: “Vão para casa, para junto dos vossos pais, porque hoje não
há aula.” Lembrei-me que, nessa manhã, a minha Mãe tinha o rádio
ligado e tinha soprado discretamente um segredo qualquer ao meu Pai, antes de
este ter saído para o trabalho. Ao chegar à Avenida Gago Coutinho, acompanhado
por alguns colegas da turma, parei. Os militares que tinha partido de Estremoz
em auxílio do Capitão Salgueiro Maia, prestes a tomar o Quartel do Carmo, em
Lisboa, desciam aquela artéria central da minha vila, metidos em chaimites
revolucionárias, entusiasmadas e expectantes.
Em boa hora.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Abril de 2016
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