terça-feira, 19 de maio de 2015

VASCULHAR O PASSADO - Uma rubrica mensal de Augusto Mesquita


                                             Escritores montemorenses já falecidos

            Ditosa vila que tais filhos teve
             
                D. FERNANDO MARTINS DE MASCARENHAS. Filho segundo de D. Vasco de Mascarenhas cursou a Universidade de Évora, e doutorou-se em teologia na de Coimbra, da qual veio a ser considerado.
            Foi Bispo do Algarve, Arcebispo de Lisboa e Conselheiro de Estado. Era considerado um dos maiores teólogos do seu tempo.
            Escreveu: Tratado de Auxílios, Oficium S. Anton, Ulisipon, Tratado sobre vários meios para o remédio do Judaísmo, e várias obras manuscritas.
            Na Sala do Exame Privado na Universidade de Coimbra, podemos contemplar um retrato deste nosso conterrâneo.
            Morreu em Lisboa a 20 de Janeiro de 1628.
                D. AFONSO FURTADO DE MENDONÇA, Era filho de Jorge Furtado de Mendonça e de D. Mécia Henriques. Principiou os seus estudos em Coimbra e concluiu-os em Lisboa. Foi doutor em cânones e Reitor da Universidade de Coimbra, Bispo da Guarda e de Coimbra, Arcebispo de Braga e de Lisboa, e Conselheiro de Estado. Tomou assento nas Cortes que Filipe I celebrou em Portugal em 1619.
            Escreveu: Ad Lamina Apostolorum, e a Constituição do Bispado da Guarda, além de três cartas ao Duque de Bragança, que estão na Biblioteca de Évora.
            PADRE ANDRÉ FERREIRA. Foi mestre-escola da Colegiada de Santa Maria de Alcáçova de Santarém, onde faleceu em 1 de Abril de 1633. Tem uma capela na Igreja da Misericórdia de Montemor-o-Novo, e deixou escritas as Memórias da Vila de Montemor-o-Novo.
            LUÍS MARTINS DE SOUSA CHICHORRO. Poeta notável do séc. XVII, escreveu o poema, “Psalmos de David” em verso heróico português e latino. Deixou em seu testamento para a capela no Convento de S. Francisco em Montemor-o-Novo, a quantia de um milhão e cem mil réis, para se dar juros. Foi sua filha D. Maria de Sousa Chichorro, a primeira administradora da dita capela.
            MANUEL BANHA QUARESMA. Bacharel pela Universidade de Coimbra. Foi advogado da Casa da Suplicação, e residiu muito tempo em Roma, onde era muito considerado pelo seu saber. Escreveu: “Thesaurus”, “Resolat ad leges municipal”, e “Ordination”, em português e latim.
            AGOSTINHO DA VITÓRIA. Estudou no Colégio do Instituto de S. João de Deus, no qual foi secretário e mestre.
            Escreveu a “Traslacion del cuerpo de S. João de Deus” – Madrid, 1667; “Instrução de Noviços da Ordem de S. João de Deus” – Madrid, 1668; “Adicion a la vida de Frei João Pecador” e a “Crónica da Religião de S. João de Deus”.
                FREI DIOGO DE S. TIAGO. Entrou para o Convento de S. João de Deus em Elvas a 10 de Setembro de 1703. Ali foi prior, passando depois para Lisboa. Faleceu no Convento de Montemor-o-Novo em 28 de Dezembro de 1747. Escreveu as “Postilhas Religiosas” e “Arte de Enfermagem”.
                FREI JOÃO DA CRUZ. Esteve no Convento da Trindade de Lisboa, vindo a ser uma capacidade em ciências escolásticas. Foi examinador das Ordens Militares, reitor do Colégio de Coimbra, e definidor e provincial. Escreveu “O sermão na canonização de S. Luís Gonzaga”, “O Tratado de Potest.” E “Jurisd. Conservatorum”.
                JOAQUIM JOSÉ VARELA. Estudou na Universidade de Évora. Intelectual entre o reformismo e a revolução, escreveu entre outras, as seguintes obras:
            “Memória sobre a extinção e supressão das ordens religiosas”, “Memória estatística acerca da notável Vila de Montemor-o-Novo” (este trabalho, editado em 1817, foi ajustado pela Dr.ª Teresa Fonseca, e reeditado em 1997 pelas Edições Colibri), “Balido das ovelhas eborenses”, e “Memória histórica da vida e acções de D. Frei Joaquim de Santa Clara Brandão”.
            Na Biblioteca de Évora existem três cartas suas dirigidas ao arcebispo D.  Joaquim de Santa Clara, pedindo-lhe protecção para a sua obra.
            LEOPOLDO AUGUSTO DE CARVALHO NUNES. O decano dos jornalistas portugueses nasceu na antiga Rua dos Marmelos no dia 22 de Fevereiro de 1897, e faleceu no Hospital de S. João de Deus a 4 de Janeiro de 1988.
            Além de jornalista, foi repórter, escritor, conferencista e benemérito. Fundou o programa “Sol e Toiros” na antiga Emissora Nacional.
            Foi proclamado em Vila Franca de Xira, no dia 23 de Novembro de 1941, “Ribatejano de Honra”. A Câmara Municipal de Coruche elegeu-o em Setembro de 1945, por aclamação, “Cidadão Honorário de Coruche”. Em 1965 recebeu o “Crachat de Ouro” dos Jornalistas. Recebeu em Maio de 1982 a “Medalha da Vila de Alcochete”.
Foi distinguido “Comendador de Mérito Civil de Espanha”, Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica de Espanha”, “Comendador da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal” e “Grande Colar com Placa da Ordem de Santiago de Espanha.
            No dia 31 de Março de 2001, o Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo homenageou o Mestre, descerrando na casa onde nasceu, uma placa alusiva.
                ANTÓNIO ALBERTO BANHA DE ANDRADE. Nasceu no Palácio de Valenças, junto ao Castelo, a 3 de Setembro de 1915. Licenciado em filosofia pela Faculdade de Filosofia de Braga e em Ciências Históricas e Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, doutorou-se no ano da sua morte, em Ciências Históricas, nesta última instituição de ensino superior. Como especialista da Cultura Portuguesa, Banha de Andrade publicou, a partir de 1943, 72 trabalhos, sendo 12 relacionadas com Montemor-o-Novo. 
                Fez o seu doutoramento em História pela Universidade Clássica de Lisboa, com a nota de “Distinção e Louvor”, a mais alta classificação universitária. Faleceu em 5 de Junho de 1982.
            MANUEL JUSTINO FERREIRA. Nasceu a 18 de Setembro de 1928. Poeta, escritor, músico, fadista, amador de teatro, e cronista na imprensa e na rádio. Escreveu em 1950 o drama em 2 actos “O Perdão”, que foi representado na Sociedade Carlista, na comemoração do seu 89.º aniversário, e inúmeros textos carnavalescos, representados nas Sociedades Carlista e Pedrista.
            Em 1967, a Escola Industrial e Comercial de Estremoz realizou a nível nacional, entre alunos de todas as escolas do país, uns jogos florais, nas seguintes modalidades: Quadra, Conto e Poesia Livre. Manuel Justino, aluno do curso nocturno da escola montemorense, arrebatou os três primeiros lugares. Em homenagem ao aluno, foi colocada na escola uma lápide com a quadra vencedora:
EU À NOITE, ELE DE DIA / SEGUIMOS O MESMO TRILHO / DOIS ESTUDANTES! QU’ ALEGRIA / SER COLEGA DO MEU FILHO!
            Estas foram algumas das facetas mais conhecidas de Manuel Justino.
            No abismo mais profundo / Duma nova dimensão / Há mundos dentro do mundo / Duma bola de sabão!
            O poeta estaria longe de pensar que este seria o seu último poema, escrito num guardanapo de papel, à mesa de um café, no dia 19 de Maio, duas horas antes de ser atingido pela síncope cardíaca. O motivo inspirador foi uma menina que, perto de si, brincava com bolas de sabão. Faleceu no dia 28 de Outubro de 2002.
                Numa atitude a todos os títulos notável, o Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, editou em 2004, o livro de poemas de Manuel Justino Ferreira, denominado “Poeta que parte… Poemas que ficam”, que teve a colaboração dos habituais carolas: João Luís Nabo, Manuel Filipe Vieira, José Alexandre Laboreiro e Leopoldo José Gomes.
            JOÃO CARLOS ALFACINHA DA SILVA. Nasceu a 24 de Março de 1949. O escritor, que usou o pseudónimo “Alface” faleceu na madrugada de 2 de Março, com 58 anos, vítima de acidente vascular cerebral ocorrido ao participar, numa sessão da Culturgest sobre a sua obra. Jornalista e guionista, revelou-se literalmente em 1977 com os “Lusíadas”, escrito de parceria com Manuel da Silva Ramos, livro audacioso e irreverente, criticamente saudado por Almeida Faria (outro excepcional escritor montemorense, felizmente pertencente ao número dos vivos). Ambos assinaram outras ficções, “As noites do Papa Negro” e “Beijinhos”. Mas, Alface teve uma extensa obra individual a partir de 1977:  
            Histórias Juvenis da série “Família sem Mestre” – “Um Pai Porreiro Ganha Muito Dinheiro” (1977, “Uma Mãe Porreira é Pra Vida Inteira” (1998), “Filhos Assim Dão Cabo de Mim” (1999), “Avó Não Pise o Cocó” (2000) e “A Prima Fica Por Cima” (2001).
            Livros de Contos – “Cuidado com os Rapazes (1982), em que nos descreve alguns episódios das suas aventuras infantis na Vila Notável, e nos trás à memória, a imagem do guarda rios José Abrantes a ler o jornal, flutuando nas águas calmas e cristalinas da saudosa Pintada, e “O Fim das Bichas” (1999).
            Romance – “Cá Vai Lisboa” (2004).
            O seu último livro foi “A Mais Nova Profissão do Mundo” (2006).
            Numa extensa entrevista a Maria João Seixas para o “Público”, esta perguntou-lhe: Alface, diz-me quem és. O elitista  respondeu: Hoje? Hoje, acho que sou o rapaz do trapézio voador, uma atracção do circo; Sou um escritor, um desempregado de longa duração. Nasci no Alentejo, em Montemor-o-Novo.

            E o Curvo Semedo? Estimado leitor, a vida e a obra de Belmiro Transtagano vai preencher o “Vasculhar o passado” de Março do próximo ano, como homenagem aos 250 anos do seu nascimento.

Augusto Mesquita
Maio/2015












1 comentário:

Anónimo disse...

Sem comentários: Sabedoria e bairrismo - duas valências muito importantes para quem fala da sua terra com amor!