Há 15 anos, João Machado foi
medalhado
Por decisão de 15 de Março de 2000 a Câmara deliberou por
unanimidade manifestar o seu aval ao avanço da concepção das propostas de
Insígnias Municipais, traduzidas na “Chave da Cidade” e “Medalha de Mérito”, de
acordo com as maquetas apresentadas, da autoria dos referidos escultores.
A primeira Medalha de Honra
“Liberdade, Progresso e Justiça Social” foi atribuída a João Joaquim Machado no
dia 25 de Abril de 2000.
Quem foi João Joaquim Machado? O
“Machadinho”, como também era conhecido, nasceu a 14 de Setembro de 1921, na
antiga freguesia de São Mateus do concelho de Montemor-o-Novo. Aos 14 anos já
se manifestava contra a guerra civil de Espanha e contra o regime fascista de
Portugal.
Filia-se no Partido Comunista
Português em 1943, iniciando desta forma a sua actividade política. Foi preso
pela primeira vez em 1945, depois de ter participado activamente nas jornadas
por melhores salários para os trabalhadores agrícolas, tendo sido levado para a
prisão de Caxias.
Em 1947, fruto das lutas por
trabalho e contra a fome e miséria que se vivia nas famílias dos trabalhadores
rurais, foi preso pela segunda vez, e levado para o Aljube. Em 1949, na sequência da Campanha Eleitoral em
que a Oposição Democrática apresentou o General Norton de Matos, voltou a ser
preso enquanto activista nesta campanha, passando pelas prisões do Aljube,
Caxias, Peniche e Setúbal.
Foi preso uma quarta vez, em 1958,
quando participava numa manifestação de protesto pela burla eleitoral, que fez
com que o General Humberto Delgado não fosse eleito, e a ditadura fascista
continuasse.
Em 1961, quando participava
activamente nas jornadas pelas 8 horas de trabalho nos campos, e quando a GNR
acompanhada pela PIDE, o tentava prender, assaltando a sua casa, e de seu irmão
Manuel, na madrugada de 5 de Maio, conseguiu fugir, passando um ano na
clandestinidade. Voltou a ser preso em 1962, em Vila Viçosa , tendo
sido levado para o Aljube, Caxias e Peniche, onde permaneceu 6 anos.
Ao longo da sua luta de resistência
antifascista esteve preso cerca de 10 anos tendo sido barbaramente torturado, e
passado 10 meses incomunicável. Em suma, fez parte activa de todos os
Movimentos de Oposição Democrática ao fascismo, e até à Revolução de Abril
manteve uma intensa resistência antifascista, luta pela liberdade e melhores
condições de vida para o povo. A partir de 1974 participou activamente nas
lutas pela democratização do país, pelo desenvolvimento do Alentejo e pela
Reforma Agrária.
Em 1974 tornou-se funcionário do
Partido Comunista Português. Em 1976 foi Candidato à Assembleia Constituinte.
Fez parte desde o início da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses,
das Comissões de Base de Saúde e das Comissões de Moradores. Como membro da
URAP, fez parte da comissão que construiu o Monumento de Homenagem a José
Adelino dos Santos, erigido no local onde tombou, assassinado pela GNR, e mais
tarde, participou na Comissão Pró-Monumento aos Resistentes Antifascistas do
Alentejo.
Reformou-se em 1986 mas continuou sempre
com a sua actividade política. Guardo na memória, a imagem do Senhor João
Machado distribuindo o “Avante”, transportado na sua bicicleta a pedais…
Como foi referido, a 25 de Abril de
2000, o Município de Montemor-o-Novo atribuiu a João Joaquim Machado a Medalha
de Honra “Liberdade, Progresso e Justiça Social”.
Esta concessão, determinada por
unanimidade, e em cuja votação, participaram eleitos da CDU, do PS e do PSD,
teve como base a sua vida, que constituiu uma referência de cidadania, e
confirma, a admiração e o respeito, que os políticos montemorenses de todas as
áreas, tinham pelo antifascista.
No Editorial do Boletim Municipal
n.º 163, de Junho de 2000, o Presidente da Câmara Municipal, Dr. Carlos Pinto
de Sá, escreveu:
“João Machado recebeu, na passagem
do 26.º aniversário da Revolução de Abril e na presença de uma multidão que
sobrelotava o Cine Teatro Curvo Semedo, a primeira insígnia municipal da
“Liberdade, Progresso e Justiça Social”. A sua vida é um exemplo de busca e
luta permanente, corajosa e coerente pela liberdade, por uma sociedade mais
justa, livre e fraterna. É certo que o aparelho ideológico dominante nos vende
diária e subtilmente o individualismo egoísta, a (in)felicidade do consumismo,
o endeusamento do mercado e do dinheiro. Mas é igualmente certo que a luta por
ideais e valores de justiça social e de humanismo não só mantém actualidade
como se sente a sua urgência. Ao longo da sua História, o Povo do Concelho de
Montemor-o-Novo tem dado provas provadas do seu inconformismo, da sua
disposição de desbravar novos caminhos de progresso. O João Machado simboliza,
como felizmente muitos outros, a rebeldia, o sentir colectivo, a iniciativa, a
dignidade profunda do que de melhor tem a alma montemorense.
Uma sociedade mais justa e democrática
passa, também, pela capacidade de fazer participar, aos mais diversos níveis,
os cidadãos nos processos de tomada de decisão. O sistema político do Poder
Local Democrático tem funcionado bem e permitiu, desde o 25 de Abril, vencer
atrasos de décadas. Invocando “a necessidade de aproximidade aos cidadãos”
alguns querem alterar este sistema. Querem por exemplo, que a Câmara não seja
eleita directamente pelos cidadãos ou que seja o Presidente, e não o voto
popular, a escolher os Vereadores. Percebem?!
O caminho não é restringir a
democracia ainda com a dose “quanto baste” de midiáticas lágrimas de crocodilo.
Precisamos, isso sim, de aprofundar a democracia. Há, pois, que continuar a
lutar e a construir. A lutar contra a discriminação de que o Alentejo e
Montemor continuam a ser alvo por parte do Poder Central (por exemplo, na
distribuição de verbas do III QCA da União Europeia), a lutar pela defesa do
mundo rural, pela criação de emprego, pelo desenvolvimento. A construir, em
colaboração com instituições e cidadãos montemorense, um concelho onde se viva,
no que ao Poder Local depende, cada vez melhor”.
João Machado faleceu no dia 22 de
Março de 2012. Na “Folha” de Abril desse ano, escrevi um texto dedicado à
“toponímia montemorense”, e no qual propôs a atribuição do nome do nosso
concidadão João Joaquim Machado, resistente antifascista, a uma artéria da
cidade. Propus para o efeito, a rua de acesso ao novo Centro Escolar e às
Piscinas Cobertas. Lamento que o nosso município, tenha homenageado, atribuindo
os seus nomes, individualidades que nada fizeram em prol do País e da Vila
Notável, e se esqueça dos seus filhos. Encaixa que nem uma luva, o velho
provérbio: “Montemor sempre foi melhor madrasta que mãe”.
Augusto
Mesquita – Abril 2015
Publicado
in : “Folha de Montemor” mês Abril 2015, transcrição autorizada pelo Autor
1 comentário:
Foi graças a homens como este que a liberdade foi conseguida. Não a deixemos perder.
25 de Abril sempre
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