sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

                                               Greves de circunstância

Sexta, 19 Dezembro 2014 10:00
A anunciada greve de 4 dias, repito de 4 dias, entre o Natal e o fim do ano, na nossa transportadora aérea é algo que nos indispõe.
O que não podemos, nós contribuintes, é aceitar que uma empresa desta natureza que tem sido, em particular, suportada por todos nós, pare em períodos que são decisivos para os portugueses e para a economia nacional. Porque é precisamente em período de férias, em que se verificam maiores movimentações de pessoas e em épocas como a Páscoa, o Natal ou o Ano Novo que assistimos a estas atitudes irresponsáveis.
Desde sempre que temos ouvido dizer que a TAP é estratégica para o país. É, e certamente o será. Mas seja ela uma empresa do sector empresarial do estado ou seja ela privatizada, não deixará de voar para os destinos que importa a Portugal estarem assegurados. Certamente que o seu papel manter-se-á.
Mas sendo estratégica para o país como se compreenderá esta permanente atitude lesiva da economia nacional. Sim, porque se a TAP quer ter o estatuto de empresa estratégica, não pode lesar a economia do país da forma como o faz. Digo a empresa, referindo-me particularmente aos seus trabalhadores, porque naturalmente os trabalhadores serão um dos activos da empresa e são eles que promovem o seu funcionamento.
É que isto de ser uma empresa e, volta não volta, o Estado ter que injectar financiamento, tem que se lhe diga.
Com elevado esforço alguns sectores crescem a um ritmo elevado, porque apostam na qualidade, porque se promovem em mercados certos, assumindo os inerentes custos, contribuindo para o crescimento da economia. E posteriormente uma empresa, ou melhor, os trabalhadores de uma empresa, para manterem a sua conjuntura põem em causa um trabalho permanente e árduo, de tantos e tantos outros trabalhadores e empresas.
Os impactos desta irresponsabilidade na economia e na imagem do país são marcantes. Alguns de difícil recuperação.
É estranho que cada vez que a empresa aparece com indicadores positivos, algo aconteça para que aqueles indicadores derrapem. Ou é o preço do crude que sobe e aumentam os custos de exploração, ou existem atrasos na entrega de novos aviões, ou se nada de externo acontecer, faz-se uma greve e pronto.
Isto leva-nos a creditar que alguns não pretenderão que a nossa transportadora aérea apresente uma boa performance, se se mantiver sempre com problemas, sejam eles de natureza financeira ou social, talvez nunca se consiga a sua privatização e, assim, manter-se-á o status quo.
Se a TAP for privatizada, ou parcialmente privatizada, nada me incomodará, pelo contrário. Estou certo que manterá a sua qualidade de serviço e muito provavelmente teremos uma empresa socialmente mais acomodada, pela simples razão que a pressão política que actualmente se permitem fazer deixará naturalmente de ter relevância, porque o Estado deixará de ter influência na empresa.
Aliás, outras empresas de transportes têm sido privatizadas e continuam a prestar um serviço público de relevo, muitas das vezes com serviços contratualizados pelas câmaras municipais. Pelo que a privatização das empresas do sector não é condição para que o serviço público de qualidade não aconteça. É talvez condição para que ele aconteça com custos mais controlados.
Até para a semana
Rui Mendes


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