De manhã nunca havia nada que
fazer – nem de resto à tarde ou à noite. Os senhores deputados estavam nas
comissões, onde também não se discutia ou decidia coisa nenhuma. Mas
normalmente o dia começava com o almoço, num restaurante qualquer, de
preferência perto, porque nessa altura os da Assembleia da República (um para
gente pobre, outro para gente rica) eram os dois tão maus, que só a esquerda e
os pais de família os suportavam. *
Quando se
voltava, era costume, para quem sabia ler, passar por um quiosque ao lado da
porta do chamado hemiciclo e comprar um grosso molho de jornais para passar o
tempo. Lá dentro, havia sempre um fila de advogados nervosos que queriam
assinar depressa o “livro de presenças”, que garantia à Pátria a sua
assiduidade, para depois de escapulirem para o seu autêntico trabalho.
Durante a sessão falavam algumas
criaturas, por ordem da direcção do grupo parlamentar.. Entretanto, chegavam as
cinco horas e no nosso lugar já se tinham acumulado alguns papéis sem
justificação do seu fim ou indicação da sua origem. Um funcionário do partido
vinha dizer aos representantes do povo como deviam votar ou não votar. A
páginas tantas, veio mesmo um com um novo processo. Trazia uns papelinhos de
cor que agrafava aos documentos que deviam fazer a felicidade da Pátria:
encarnado significava não, verde sim e amarelo esperar. Assim se poupavam
explicações ao rebanho.
…………………………………………….
Um esforço destes, devemos
reconhecer, merece a gratidão do país. Admito que não aguentei aquele
deprimente sítio, mais de três meses. Mas quem ficou merece com certeza uma
enorme medalha e uma subvenção vitalícia.
Vasco Pulido Valente in Publico
*Há quem diga que não. !
2 comentários:
AGORA JÁ ACREDITO QUE A JUSTIÇA CHEGUE AO ALANDROAL UM DIA!!!!!!!
Eu também acredito nisso... Há por aí uns que já andam mais caladinhos que uns ratos...
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