domingo, 23 de novembro de 2014

TEM RAZÃO SENHOR PULIDO. VÊ-SE QUE SABE DO QUE FALA

De manhã nunca havia nada que fazer – nem de resto à tarde ou à noite. Os senhores deputados estavam nas comissões, onde também não se discutia ou decidia coisa nenhuma. Mas normalmente o dia começava com o almoço, num restaurante qualquer, de preferência perto, porque nessa altura os da Assembleia da República (um para gente pobre, outro para gente rica) eram os dois tão maus, que só a esquerda e os pais de família os suportavam. *
Quando se voltava, era costume, para quem sabia ler, passar por um quiosque ao lado da porta do chamado hemiciclo e comprar um grosso molho de jornais para passar o tempo. Lá dentro, havia sempre um fila de advogados nervosos que queriam assinar depressa o “livro de presenças”, que garantia à Pátria a sua assiduidade, para depois de escapulirem para o seu autêntico trabalho.
Durante a sessão falavam algumas criaturas, por ordem da direcção do grupo parlamentar.. Entretanto, chegavam as cinco horas e no nosso lugar já se tinham acumulado alguns papéis sem justificação do seu fim ou indicação da sua origem. Um funcionário do partido vinha dizer aos representantes do povo como deviam votar ou não votar. A páginas tantas, veio mesmo um com um novo processo. Trazia uns papelinhos de cor que agrafava aos documentos que deviam fazer a felicidade da Pátria: encarnado significava não, verde sim e amarelo esperar. Assim se poupavam explicações ao rebanho.
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Um esforço destes, devemos reconhecer, merece a gratidão do país. Admito que não aguentei aquele deprimente sítio, mais de três meses. Mas quem ficou merece com certeza uma enorme medalha e uma subvenção vitalícia.
Vasco Pulido Valente in Publico
*Há quem diga que não. !

     

2 comentários:

Anónimo disse...

AGORA JÁ ACREDITO QUE A JUSTIÇA CHEGUE AO ALANDROAL UM DIA!!!!!!!

Anónimo disse...

Eu também acredito nisso... Há por aí uns que já andam mais caladinhos que uns ratos...