quinta-feira, 20 de novembro de 2014

HABITUAL CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM


Quinta, 20 Novembro 2014 11:05
A normalidade é um conceito elástico. O que é normal para uns pode ser aberrante para outros. O que não ofende os sentidos de alguns pode ser ofensivo para outros tantos.
Talvez por isso nunca tenha percebido muito bem o que é isso do normal funcionamento das instituições.
Sempre que pressionado a demitir o governo, o Presidente da República vem invocar que não está em causa o normal funcionamento das instituiçõoes e como tal não vê razões para interferir no curso da legislatura.
Da implosão do BES, o banco do regime, com todo o acumular de erros e omissões por parte de reguladores e governantes e que acabou numa solução que nos vai a todos fazer pagar por isso, não resulta nenhuma avaliação de anormal funcionamento das instituições.
Da confusão estabelecida no início do ano escolar, com professores colocados que não deveriam ter sido e professores não colocados que deveriam ter sido, que depois resultou na colocação do mesmo professor em dezenas de escolas, com as desculpas do ministro que se revirou do avesso para demonstrar que tudo estava a funcionar normalmente, não resultou nenhuma avaliação de que as instituições não estavam a funcionar segundo parâmetros de normalidade.
Do desastre que foi a suposta reforma do mapa judiciário, que afastou ainda mais a justiça dos cidadãos, com o episódio da paralisação da plataforma informática e da construção de uma teoria da conspiração para encontrar reponsáveis que limpassem a face da ministra e da sua óbvia responsabilidade política, também não resultou qualquer indício de suspeita sobre o normal funcionamento das instituições.
Do escândalo dos vistos dourados, que envolveu altas figuras da administração, o dirigente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o presidente do Instituto de Registo e Notariado, a secretária geral do Ministério da Justiça e que levou à demissão do Ministro da Administração Interna, não se retirou qualquer evidência de que as instituições estariam afectadas no seu normal funcionamento.
Quando o Presidente da República, em entrevista a um jornal, afirma que as eleições legislativas serão na data legalmente prevista, afastando qualquer possibilidade de antecipar a agonia governativa e na mesma entrevista afirma que o próximo governo tem que ser maioritário, em vez de afirmar que o próximo governo tem que ser o que os eleitores quiserem que seja, não lhe passou pela cabeça a avaliação autocrítica que poderia resultar na conclusão de que as instituições estão longe do seu normal funcionamento.
Como se vê a tal “normalidade” é servida a la carte conforme as experiências e os objectivos de cada um e neste caso resulta na conclusão de que faça o governo o que fizer, aconteça o que acontecer, o normal é continuar em funções.
Um dia o paradigma de normalidade mudará, mas até lá é esta a normalidade que impera.
 Até para a semana
Eduardo Luciano


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