Segunda, 22 Setembro 2014 08:57
Vai decorrer na próxima sexta-feira mais uma reunião da Assembleia
Municipal de Évora. Não posso deixar de realçar o agendamento da deliberação
sobre a Declaração de Interesse Municipal do projecto de exploração mineira
previsto para a zona da Boa Fé.
Finalmente
ficará clara a posição de todos os eleitos. A propósito deste assunto e desta
votação gostaria de enunciar alguns considerandos:
- Sendo
importante realçar que o Bloco de Esquerda foi o primeiro partido político
a manifestar-se contra a execução deste projecto, e que esteve sozinho
durante meses nesta batalha (digo partidariamente, porque sempre esteve
acompanhado por muitos cidadãos e cidadãs independentes), devo afirmar que
para o Bloco o importante é o impedimento da execução deste atentado
ambiental e social, pelo que o envolvimento de outros partidos nesta
batalha é uma óptima notícia. Esta causa merece a atenção e a intervenção
de todos que de forma solidária queiram estar envolvidos.
- Os
dados existentes sobre o projecto e as audiências promovidas pela
Assembleia Municipal de Évora a várias entidades (públicas e privadas)
permitem determinar com clareza que este projecto constitui um atentado
ambiental que influenciará as gerações actuais e vindouras. Mas estas
audiências permitiram, também, deixar claro que não existem quaisquer
vantagens sociais e económicas. Alegam que os royalties (de apenas 4% para
o Estado) e alguns postos de trabalho (cujo tipo e qualidade do vínculo
contratual é duvidoso) constituiriam uma mais-valia, mas ninguém
(incluindo a CCDR-Alentejo e a Câmara Municipal de Évora) consegue avaliar
com exactidão o impacto negativo sobre a economia da região (dos valiosos
sobreiros e fauna, passando pela apicultura, pelo turismo, pela
agricultura biológica, etc). Sabemos apenas que tudo ficaria em causa à
mercê de uma actividade puramente especulativa e cuja história de
actividade é caracterizada pelo abandono precoce e incumprimento de todas
as promessas de recuperação pós-extração.
- Perante
tais evidências, não deixa de ser curioso que continuamos sem saber a
posição oficial do PSD e da CDU. Sexta-feira ficaremos a saber. Mas não
posso deixar de salientar que o Bloco de Esquerda condenará veementemente
qualquer voto que não seja contrário à Declaração de Interesse Municipal,
e na mesma medida, qualquer tentativa de adiamento da decisão. Os dados
estão em cima da mesa, pelo que as acções, na próxima semana, dos eleitos
na Assembleia e da maioria que governa o Concelho serão clarificadoras e
merecerão uma posição forte, quer seja pela via do elogio e da
congratulação, quer seja pela via do protesto e oposição.
- Por
fim, não posso deixar de sublinhar algo que normalmente não me merece
qualquer atenção. Vou responder pela primeira, e calculo pela última vez,
aos anónimos repletos de cobardia que enchem os blogs regionais de
mentiras e calúnias. Estes senhores anónimos, tão identificáveis face ao
seu perfil partidário profissional, apressam-se a dizer que o Bloco de
Esquerda não votou contra a última revisão do PDM, ignorando a sua posição
na votação do PIER – Plano de Pormenor de Intervenção em Espaço Rural para
o Território do Sítio de Monfurado. A estes “anónimos profissionais”
replico, aproveitando para esclarecer os meus concidadãos e concidadãs,
que o Bloco de Esquerda se absteve no PDM, lembrando que este é um
instrumento geral de ordenamento do território, mas sublinho que o Bloco
foi o único partido a votar contra o PIER em Novembro de 2010, repito em
Novembro de 2010. Um PIER, instrumento de gestão específico para a região
em causa, viabilizado pelo PS e pela CDU, e que escancarava as portas para
a exploração mineira. Em 2010, a deputada municipal do BE dizia, e citando
a acta em questão (que pode ser consultada no sítio da internet da AME):
“a Sra. Amália Oliveira transmitiu que a área do Monfurado lhe era
particularmente querida, (…), sentindo-se bastante preocupada por o
regulamento em causa ser assaz permissivo em relação à exploração
mineira”. Nem o executivo, nem qualquer eleito, comentaram ou intervieram
sobre tal aspecto. E já que falamos de Boa Fé, a política só faz sentido
quando se age de boa fé, de consciência tranquila e fiel aos valores
defendidos. Será que estamos todos no mesmo barco?
Até para a semana!
Bruno Martins
Terça, 23 Setembro 2014 09:31
Queria hoje falar-vos da mina da Boa Fé. O assunto anda quente aqui do lado
leste da fronteira com o vizinho concelho, a quem a prospeção e exploração de
um ouro de que há muito se fala, e a concretizar-se, também afetará.
Desse
concelho vizinho veio o presidente que do lado de lá terá proposto a votação
favorável do interesse municipal dessa exploração. Digo “terá” porque, de
facto, nunca vi nem li tal parecer, já que o filtro para a opacidade do que se
passa nas reuniões públicas do concelho de Montemor-o-Novo é bem eficaz na
impossibilidade, ou pelo menos enorme dificuldade, para o público em geral de
consultar as atas deste órgão democraticamente eleito. E por estes dias
previsivelmente se fará, neste concelho de Évora onde foi eleita a equipa que o
“ex.” de lá e atual de cá dirige com maioria absoluta, uma proposta com o mesmo
assunto que, à data em que componho esta crónica, ainda desconhecemos.
E vou usar o estrangeirismo spoiler para tratar o assunto. A palavra
spoiler tem origem no verbo to spoil, que significa
“estragar” em inglês. E não, não vou discorrer sobre os estragos que uma mega
intervenção daquele calibre, a realizar-se, vai causar. Isso já muitos têm
feito, bem feito, apesar de não pertencerem, ao que conste, àquela espécie de
partido registado como “os Verdes” que se junta ao Partido Comunista, sabe-se
lá porquê (eu até tenho uma ideia sobre isto, mas agora não tenho tempo para a
expor, talvez noutro dia), para formar a coligação em que a maioria dos
eborenses que votaram nas últimas autárquicas se reveem.
O spoiler de que vos falo é aquele que revela a outros informações
sobre o conteúdo de algum livro ou filme, antes que esses o tenham visto ou
lido e ainda o queiram fazer. O spoiler é uma espécie
de desmancha-prazeres, o indivíduo ou fonte de informação que conta o
final da história e estraga a surpresa aos outros. Alguns artigos e programas
de divulgação ou informação até destacam um "spoiler alert",
uma espécie de aviso usado quando algum conteúdo sobre um filme, série ou
livro pode revelar elementos importantes sobre o seu enredo.
Ora, os mais atentos saberão bem que este filme da exploração de ouro tem
episódios e desenlaces muito conhecidos, nenhum deles capaz de reviravoltas
felizes e surpreendentes como tentam, os seus realizadores, ao dourar-lhe o
final: centenas de empregos por cinco anos e uma estupenda paisagem reordenada
por cima das crateras deixadas, de fazer inveja a qualquer lugar natural
classificado pela Unesco. Acreditem que neste caso não é preciso ver para crer,
basta procurar q.b. os spoilers e vão ver que lhes agradecem todos os
pormenores revelados, concordando que “se tire a Boa-fé deste filme”.
O que também me quer parecer, pelo que tenho ouvido dos debates promovidos
desde 2013, é que os únicos ainda realmente interessados no projeto são a
empresa exploradora canadiana e talvez alguns satélites seus que permanecem na
sombra, como pareceu ser o Álvaro, o ex-ministro que mandou avançar as
primeiras prospeções com despacho de quem quer, pode, manda, e “mais nada!”. Ou
seja, não vi ainda ninguém, de Évora ou Montemor, manifestar-se em nenhuma
posição pública a favor da mina de ouro. O que também me deixa ainda mais
curiosa com o novo parecer municipal, desta feita do lado oeste da Boa-fé. Ora
aqui está um filme sem spoilers… Aguardemos com atenção.
Até para a semana.
Claudia Sousa Pereira
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