domingo, 31 de agosto de 2014

ALENTEJO DA MINHA ´ALMA....

Documentário sobre o Cante "Alentejo, Alentejo" de Tréfaut estreiou-se dia 28
O documentário insere-se no projeto de candidatura do Cante a Património Imaterial da Humanidade e conta com a participação, entre outros, d`Os Camponeses de Pias, dos Cantadores da Aldeia Nova de S. Bento, do Grupo Coral da Casa do Povo de Serpa e do Grupo Feminino de Alcáçovas, que interpreta "Portugal está na crise", uma letra contemporânea.
"Alentejo, Alentejo", que inclui ainda a participação de várias escolas básicas, recebeu o Prémio para o Melhor Filme Português no Festival Indie Lisboa, deste ano.
"Nascido nas tabernas e nos campos, o cante transmitiu-se ao longo de várias gerações. Nas últimas décadas, com a diáspora alentejana, novos grupos surgiram na periferia de Lisboa e em diversos países de emigração. Muitos deles formados por adolescentes e crianças, provando que o cante está vivo e é o traço identitário de toda uma população", afirma em comunicado a produtora.
"`Alentejo, Alentejo` é uma viagem a um modo de expressão musical único e à paixão dos seus intérpretes", segundo a mesma fonte.
Além dos grupos participantes, como o Papoilas do Corvo, o filme do realizador nascido no Brasil regista vários depoimentos, como o de Bento Maria Adega, de Safara, no concelho de Moura, que afirma: "Foram cigarras e pássaros que ensinaram os alentejanos a cantar".
Entre os grupos que se foram formando fora do Alentejo, território de origem do cante, participam, entre outros, Os Rouxinóis da Damaia e Os Bubedanas.
Um dos momentos do documentário é a interpretação do tema popular "Solidão", por um grupo de cantadores, junto da campa do etnomuiscólogo Michel Giacometti, no cemitério de Peroguarda, Ferreira do Alentejo.
O Alentejo e a sua realidade sociocultural não são estranhos ao realizador, filho de um alentejano, "originário da margem esquerda do Guadiana", como explica Tréfaut.
"Descobri o Alentejo na minha adolescência. O meu pai, queria muito que eu conhecesse a terra dos seus antepassados e o terreno fértil onde estava a nascer a `Reforma Agrária`. Enviou-me para passar uma semana na casa de camponeses da Amieira, a aldeia de onde provinham os trabalhadores que cultivavam a terra na Quinta da Esperança, o monte onde ele tinha crescido, junto ao rio Ardila", conta o realizador.
"A respeito do cante, a história é muito simples: foi graças a um grupo de camponeses alentejanos reunidos em serenata, por baixo da janela do quarto onde a minha mãe dormia pela primeira vez, que o meu pai conseguiu convencê-la a deixar a França para casar com ele. Ao longo da vida, a minha mãe chorava sempre que ouvia cantares alentejanos numa taberna. Ela gostava muito de tabernas. Não creio que a razão da sua emoção fosse apenas a lembrança do seu namoro com o meu pai, mas a poderosa comoção que aquelas vozes saídas do fundo da terra lhe causavam. Comigo acontece o mesmo", afirma Tréfaut.
O documentário tem recebido elogios da crítica nacional e estrangeira. Em maio passado, Neil Young do The Hollywood Reporter, escreveu: "Há muito mais por descobrir no universo musical português do que os lamentos urbanos de renome mundial, conhecidos como Fado -- é o que mostra o filme de Sérgio Tréfaut `Alentejo, Alentejo`. Existe uma celebração polifónica, rural, uma forma tradicional de cantos, conhecida como cante Alentejano - ou apenas `cante` para encurtar".
O crítico salienta as "gravações com um brilho e uma limpidez extraordinário.


Sem comentários: