PANO CRU
I.
Este verão aqueceu e vai tornar-se bastante quente,
tendo por fundo, este “Pano Cru” das
notícias vindas do lado do ESFG, do
BESA, do BES e de todas as sucessivas camadas de negócios e vigarices que andam
a desvendar-se e a falir, diariamente, pondo Portugal, em pele e osso.
Esmifrados e subjugados aos interesses mais variados
(incluindo os de uma maioria politica
absoluta ) somos levados, crescentemente, a duvidar dos poderes
politicos,económicos e sobretudo financeiros que andam a liquidar-nos…
enriquecendo cada vez mais.
De facto, entre um presente que andava a ser conhecido
e previsto e um passado, mais ou menos recente, de que vamos conhecendo novos
contornos, cabe-nos perguntar, enquanto cidadão, onde é que isto vai parar? E
que outro tipo de contágios e promiscuidades de casino existem ou vão continuar
a existir? Por exemplo, no B.P. ou até numa certa inércia do M.P. perante a
gama vasta de ricardos,ricardinhos e companhia?
Em que lufada de ar novo e agentes fortes do poder
poltico, devemos começar a confiar para sair (ou pelo menos tentar sair…) deste
desespero larvar “e sistémico” ( do regime e do sistema) que vai contaminando a
vida social e moral da sociedade portuguesa, a vários níveis?...
II.
Hoje,porém, não vamos pregar mais aos peixes no Al
Tejo…
Vamos mudar e
recordar um episódio curioso com Agostinho da Silva,um dos pensadores
portugueses que se podem ir lendo e reconhecendo.
É assim.
“Em determinada altura do governo série longa da “união nacional”, o seu MNEstrangeiros,
Franco Nogueira, fez-lhe saber que Salazar gostaria de ouvi-lo e,
perguntou-lhe, se estaria disposto a aceitar um convite do governo português
para vir a Lisboa ( A. da Siva vivia e ensinava no Brasil).
Teria, porém, de entrar clandestinamente no país, pois
o seu nome integrava as listas negras da PIDE.
Divertido com a situação, A. da Silva, voou para a
Portela,com um nome falso,desembarcou e foi imediatamente preso.
E foi assim, sem perder mais tempo nos croquetes, que
Franco Nogueira teve de interromper um banquete no (vizinho) Palácio das Necessidades para vir, vestido de fraque,
explicar aos agentes da PIDE que o detido vinha,em segredo, a convite do seu
próprio ministério”.
Entre o espanto e o riso que esta cena real vos possa
causar como causou a Natália Correia ( ver O Botequim da Liberdade,2013)
ficamos nós com a sensação que, o
ditador de Santa Comba, percebia e sabia perfeitamente situar-se acima do seu
proprio poder único e autoritário,assumindo de passagem, que o poder politico é
apenas relativo e um composto de diversos poderes. E que o mesmo poder não se
esgota ou se limita em exercícios absolutos ou, em maiorias absolutas
passageiras, ditas de teor democrático. Seja para consumo externo ou interno.
Nacional ou local.
Há sempre, acima das conjunturas politicas, um ou mais
planos e visões de fundo a ter em
conta. No caso de Agostinho da Silva, a sua visão antecipada
e certeira,estava no lançamento da Lusofonia com a criação de novos países
africanos independentes e de língua portuguesa.
Tal como veio acontecer passado pouco tempo.
Se outras
ilações houvessem de ser tiradas deste episódio,não acham que “o poder dos
principes e princesas” é a de que o poder é,ou devia ser, uma coisa relativa e
transitória? E que “a legitimidade das escolhas eleitorais” tem depois pouco a
ver com “a legitimidade do exercício” continuado deste mesmo poder, caso este
não seja praticado de uma forma realmente abrangente e democrática.
E não apenas exercido de forma calculista e de sentido
único quando apenas cheira a eleições parlamentares. Ou,num sentido mais
alargado, quando é para um dos orgãos politicos autarquicos que a seguir
pretendem governar-nos repetindo-se no poder?
Sabendo previamente que todas as votações são ganhas e que todas as
decisões podem ser impostas.
Aqui fica, neste primeiro pano cru, a questão.
Melhores
saudações
Antonio
Neves Berbem
(18/7/2014)
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